quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Algo me devora nesta madrugada, mas não sei exatamente o que é.

Talvez este surrealismo impalpável, que me aperta a garganta em gritos surdos, a loucura é uma grata amiga que vive por aqui a declamar frases e a sanidade sempre sonolenta se deixa adormecer em qualquer cantinho da casa... Menos perto de mim.

Há potes de cores e sombras a correr no limiar das manhãs e eles cantam, algo parecido com a música do Zeca Baleiro, eu acho...sei lá, não da para escutar direito.

Meu colchão tem chamas ardentes de palavras inclusas no dicionário de Deuses que nem mais creio, aliás ultimamente não sei direito no que acredito, no que desacredito, ando sem tempo para pensar.

Amanhã vem chegando... Como aqueles romances de cidade praieira, lagoa nos olhos e jangadas preguiçosas, que se esgueiram em águas cristalinas, e lá vem ela raiando... Rindo do meu meio dia aos frangalhos. Nem sei para que vem, na realidade hoje, eu queria desligar os botões do tempo!

Sabe? Estacionar as pessoas, deixar o mundo paradinho, exatamente como está agora...

Cada um em sua caminha com seus sonhos, e quem sabe ai, mais tarde eu conseguisse criar. Odeio telefone, som de televisão, buzinas, e aquela famigerada palavrinha que muitas vezes me tira do sério...Mãe!

Que me perdoem, as que vêem como poético ser super mãe, mas isso não tem nada de poético! É uma sina, sempre preocupada com sucos, saúde, comidas, horários, tempo, tempo, tempo!

E assim, apenas nas madrugadas consigo me rever e mesmo assim de relance...num troca troca infernal de cara e roupa...uma hora a poeta, outra hora a pintora...e em tantas horas a estranha que só vejo raramente. Graças ao universo! ela me mataria de câimbra mental se viesse sempre.

Tens um relógio ai? Tenta pará-lo, por favor... Quero o dia parado pelo menos hoje e só hoje...

Preciso de mim, e é verdade isso...ando em um teatro onde sou a diretora, tradutora, contra regra, atriz, coadjuvante, faxineira, caixa, tomo conta da lanchonete e em noites de domingo já até vendi pipocas lá fora...

Pense na agonia? ...

- Pipoca sr?

- sim, obrigada...

- só um minutinho, vou só terminar o ato e já volto.

É bem assim que me sinto as vezes...

E ainda dizem que é bom ser mulher...pelo amor de Deus! Só quem diz isto, é quem é homem.

Não quero aqui entrar no mérito na questão, mas vamos e convenhamos...ando com muita saudade da época de minhas avós. Tinham tanto tempo para a poesia, a boa literatura, uma excelente empregada na cozinha, e uma casa onde nada dava problema...ao menos elas nem sequer sabiam se davam. Hoje precisamos trabalhar, ensinar, crescer, ser doce, ser forte, ser séria, ser leve, ser responsável, dirigir e digerir os sapos, e ainda fazer carinha de paisagem...

Creio que esta minha feminilidade só me deu poucos e maravilhosos momentos inesquecíveis, a gestação foi um deles, inegavelmente o melhor. Mas ainda não sei se ando com problemas hormonais ou se meu cérebro está em obvio e decadente colapso. Porque não to achando a menor graça em ser mulher nos mundos e moldes atuais.

Bem, perdoem ai o desabafo...

Acabo de fazer um café... Aceitam? é muito bom para minha insônia. Vou ali até a janela, olhar a mata e escutar mais de perto um som de passarinho que não estou identificando, mas está alto e em bom tom, me avisando em ecos que lá vem a manhã...

Márcia Poesia de Sá

3 comentários:

  1. Gritos surdos e loucos
    A chama das palavras que consome....
    Amanhecer
    Sina e dever
    O feminino desperta
    Fica o sonho de poeta

    Aos poucos vou conhecendo sua alma....

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  2. Fiquei supre feliz em te ver por aqui meu amigo, beijos...

    sim sempre aos poucos, lêem os bons leitores.

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  3. Parabéns pelos seus textos, é muito bom ver a nossa alma falando.
    Se quiser ver os meus:

    http://palavrascuram.blogspot.com/

    adenis.reis

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