quarta-feira, 14 de março de 2012

Tarde chuvosa

Ele fumava seu cachimbo calmamente ao som de Vivaldi, enquanto a tarde chuvosa umedecia carinhosamente a tarde das hortênsias
o jardim sempre parava para revoar com ele e seus pensamentos. Beija flores coloriam a paisagem, e eu, menina pequena ainda, brincava com minhas Suzys pelo chão do terraço. Mas mesmo pequena, lembro-me que de quando em quando, eu parava para observar aquela fumaça que desenhava no vento, arabescos de tantas formas. A toalha branca sobre a mesa redonda, me fazia lembrar uma saia rodopiante de alguma bailarina gorda e sozinha, eu ria de meus pensamentos.
É fantástico observar como algumas palavras, neste caso, cachimbo, abrem a alavanca das memórias e o escritor desaba mente adentro por sensações, cheiros, gostos e tudo o mais que o livro das lembranças guarda tão bem guardado entre suas folhas...
O olhar dele deixava claro que apenas uma pequenina parte daquela imensa alma permanecia naquele terraço...seus olhos que vagavam entre um pássaro ou a macies azul do brilho da água da piscina, tentavam me iludir de sua presença, mas no intimo eu sentia que na verdade, ele andava distante, quem sabe caminhando em suas memorias, como hoje faço. E eu, respeitosamente só silenciava, e até a maçã devagar mordia... observando apaixonada aquele ser...que tanto me dizia, mesmo em silencio.
A porta que uniu-me a ele é infinita e indestrutível...e hoje quando chove, e eu me entrego a Vivaldi, posso quase toca-lhe a mão do outro lado deste infinito.

Márcia Poesia de Sá

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