sábado, 4 de janeiro de 2014

O silêncio

A saída dele e daquela forma foi algo que me impregnou a retina desde sempre após aquele instante. Corpo pesado mas sem exageros, um casaco negro de lã que ia até os punhos suas mangas, e descia pelo seu corpo até um pouco á baixo do joelho, e chegou mesmo a lamber-lhe o sapato quando ele se inclinou para pegar a mala, me deixando assim observar sua calça também escura e um leve brilhomarinho que vinha da camisa dentro do casaco, dela também exalava aquele perfume...era como se o calor de seu corpo o expulsa-se pelo mundo.
Eu, de pé ao seu lado deglutindo sem salivas, e sem encontrar sequer uma palavra na minha mente que pudesse abrandar a sua decisão de ir, já que eu sentia-me completamente incapacitada de fazer-lhe o que ele me pedia. Minha garganta doía a mais lancinante dor e sentia um avolumar de algo como se ela pudesse explodir a qualquer momento.
No tapete caramelo claro, agora iluminado por um filete de sol que ainda insiste em passar pela sala, cai a passagem, o passaporte e a caneta; ah...a caneta dele, mas prefiro por ora nada dizer sobre isto, ele agora, já de pé os olha e esboça um riso indefinido, que me deixou perplexa e envolta em meus pensamentos. O silêncio nesta hora foi tão avassalador, que foi escutado e verbalizou pelas paredes em círculos infindos.
Desmaiei os olhos até sua mão, como se desejasse assim, que meus olhos rompessem meu silencio, aquela mão forte, tão bonita que por tantas vezes vi e senti tão perto, se agarrava a mala e eu pude sentir toda a pressão que ela fazia, e isto me doeu na alma. Baixei a cabeça e mais uma vez senti o coração doer, em meio a minha total incapacidade de dizer os porquês.
Ele se abaixou, pegou suas coisas e agora sim nos entregamos um aos olhos do outro e me foi inevitável sentir o marejar. Nos seus olhos vi uma saudade, uma dor e tantas pequenas raivas e incompreensões de mim, coisas que certamente eu poderia fazer evaporar em segundos se eu lhe falasse o porque dos meus nãos, mas eu não conseguia! simplesmente não conseguia!
Se aproxima de mim, e nesta hora o perfume dele me abraçou, a mão, me segura o rosto com toda a doçura salgada de uma despedida, e beijou-me a testa, roçando a barba pela lateral de minha face e mergulhando ternamente em minha boca, como um barco á deriva. Bebo as suas verdades e dissolvo-me no mais profundo e dolorido beijo que já dei, eu o amava tanto...
Enlaçando meus braços em seu pescoço afago os fios prateados e mais macios que qualquer nuvem, mantendo assim nossos corpos tão próximos que consigo sentir a taquicardia dele em meu peito. Um instante que mais pareceu ter a face da eternidade, e subitamente finda, e ainda de olhos fechados fico, quando percebo suas costas, o braço alongando-se até o trinco da porta, e esses sutil desespero que em mim transborda, pulsando meu corpo todo, como se fosse um tremor de terras.
A porta abre, ele passa, a porta fecha e eu fico. Fico, embora já tenha ha muito, ido..

Márcia Poesia de Sá.

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