sábado, 10 de maio de 2014

A dança 

E lá vem o vento do outono comendo o caminho das curvas, dilacerando pergaminhos úmidos, e espalhando o amarelar de folhas pelas planícies desavisadas. E sai por entre galhos de figueiras e amoras aniquilando mansamente os raios que ainda do céu atrevem-se a aquecer os frutos. O outono sabe ser a mais cruel das estações, já que o egoísmo do amarelar, apenas aceita os marrons. De sua paleta nenhum tom escorre que não seja mesclado de secura e queda. Vasta solidão...E é feita de uma canção de violinos a sua dança hipnotizante!
E é na placidez de cacos de um velho espelho largados em um jardim qualquer, que o outono canta e dança suas mudas curvas como se fora uma serpente do encantamento. Abastecendo-se de veneno para a próxima picada no vento. Depois sopra as folhas que despencam e parte para deixar o palco livre, ele sabe que o inclemente inverno já sobe suas escadarias e está com fome.

Márcia Poesia de Sá - 2014.

Nenhum comentário:

Postar um comentário