quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Quem me dera saber bordar, prometo que tentei, mas esta arte manual me foge dos dedos, em furos de agulhas que sangram. Ah quem me dera costurar os rasgos de cada alma e saber colocar estrasses como estrelas nos olhos das noites sem lua. Queria poder repaginar a vida num diálogo perfeito entre o abstrato e o rarefeito, mas não ousei. Fiquei estagnada nas mesmas pinceladas azuladas dos momentos, e escolhi a palavra como asas, voei nos mesmos céus e só sonhei em noites onde chovia, aquarelando tudo. Matizando de uma só cor a tela que poderia ser profusa e original. Quem me dera um dia compreender de fato a voz das nuvens, quem me dera a paciência das pedras, e a força que gesta os corais...
Se eu soubesse mesmo bordar faria uma imensa colcha branca em renascença de intimidades, colocaria nela borboletas de aconchego e segurança, faria de cada fio de linha um abraço e em uma noite fria do futuro, te cobriria de alegria e sono.
Mas minha incompetência abissal em bordar, me arrasta aos ventos e chuvas que caem em minhas telas brancas agora, e parece choro, e parece dor, mas as vezes penso que é só uma cachoeira, uma imensa cachoeira transparente que inunda meus pensamentos e faz com que o mundo todo se torne liquefeito. Minha loucura é tanta, que dormi e sonhei que bordava, quando acordei só senti uma terna e breve maciez dos pontos não dados, e um leve aroma de mirra e sensatez.
Márcia Poesia de Sá.

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