terça-feira, 10 de novembro de 2015

A mulher do vento
Visto-me de negro
coloco um capuz de sombras
e caminho pela ruazinha
de pedrinhas pequenas,
apenas iluminada
pelas lamparinas
uma aqui, outra mais adiante
vejo sombras cambaleantes
pouco mornas
quase ausentes.
um tanto mortas...
Uma fumaça ou uma neblina
baila na esquina da rua
e a carruagem passa sem alarde
Eu, tão invisível
como a fome dos desesperados
caminho calmamente
até a ponte de ferro.
Lá o vento intrépido e ousado
faz amor com a água do rio
mas ninguém vê...
uma flor desprendeu-se do galho
o gato preto miou
o mundo caiu no rio
Mas ninguém viu
Eu, vestida de negro
caminho sozinha
pela linha da loucura
toco a face da noite
sinto o ar gelado
calo-me.
o frio, que só se abranda por um instante
quando degluto um gole de café
em um bar da esquina do cinema
O cinema está fechado
nenhum filme em cartaz
volto caminhando
pela estradinha de pedras pequenas
subo as escadas
tranco as portas
fecho as janelas
olho os cadernos sobre a mesa
pego com força a cadeira,
aproximo-a da mesa
agarro-me a pena
e vou embora.
Márcia Poesia de Sá.

Nenhum comentário:

Postar um comentário