terça-feira, 10 de novembro de 2015

... E do vento que sopra, sempre
Quando garota, eu ficava na janela, no sexto andar a conversar com o mar, e ele por tantas vezes mudava de cor, ora prateando-se serenamente nas manhãs, ora esverdeando tudo como uma imensa paleta de morna esperança, ora engravidando de céu e num azul marinho se recostava ao horizonte e cochilava... e em outras horas, quando a madrugava cavalgava, ele enegrecia-se e só nas ondinhas próximas da areia ele piscava em branco que brilhava ! eu sempre gostei de falar com ele e ele adorava conversar com o vento. Depois, já um pouco mais velha, eu gostava de falar com o vento quando sentava na ultima serra nas terras de meu pai, e no silêncio da mata que brincava com seus bichos, eu ouvia o vento assoviando enquanto as árvores dançavam com ele um certo balé, noutros dias dançavam valsa, e noutros só deitavam as cabeças em seu ombro e ele as fazia mudar de tons de verde enquanto as embalava baixinho, numa ternura tão grande! ... é, eu, menina ainda via a tudo isso enquanto rabiscava meu caderninho. E os anos foram se passando, então houve um tempo, em que eu falava com o vento só as pressas, quando ele invadia a conde da Boa vista e fazia brincadeiras em meus vestidos, eu brigava com ele, mas ele saia rindo avenida a fora e nem me ouvia... depois, nasceram meus filhos e ai o vento vinha dar-lhes beijinhos nos fios dourados enquanto eles dormiam no meu colo, ou quando brincavam de pega entre uma corrida e outra, o vento brincava com eles e eu o via... esse vento que por toda minha vida me fez pensar. Hoje eu ainda o vejo, as vezes mais velho, mais calmo e tão mais sábio, as vezes parece criança brincando. Ainda leva meus filhos para os trabalhos enquanto eles aceleram por ai...ainda visita um a um os poetas quando eles abrem suas janelas, ele esteve em Pelotas também, abriu casacos, assanhou os cabelos, assoviou, cantou e riu muito !...este meu amigo vento até parece que está sem estar, já que na verdade ele está em todo lugar. Agora por exemplo, olhem só que coisa ! o vento está fazendo rodopios dentro da minha cabeça, e já fez revoar um monte de poemas que estavam guardados na caixa das memórias...
- ôh senhor vento, se comporte !!!
- eu?! eu não...diz ele sorrindo.
E partiu cabeça á fora, dando cambalhotas ...
Márcia Poesia de Sá - 2015..

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