terça-feira, 10 de novembro de 2015

E da profundidade úmida e ainda escura da mata que docemente prateia com ínfimos raios de sol quando os relógios da manhã ainda se espreguiçam sonolentos, vejo subitamente sobre os quadriculados da armação da porta, dois passarinhos em dúvida do que fazer. Seus pés são frágeis. Mesmo assim, numa confiança inconfundível das asas, revoam sobre a placidez da manhã, soltando pelo ar a magia da criação que se expande em meus olhos...
Emerjo do ostracismo, num olhar que, lânguido, se esgarça num silêncio que grita. Meus pés caminham como se ainda pisassem nas nuvens dos sonhos que a noite soprou e entre o espanto e o encanto, me posto diante da cena, do sobrevoo amplo das aves que visitam meu canto, e já tão cedo. Como um balé sem ensaio beirando a perfeição. Desperto, olhos chuvosos de gratidão e respeito por permitir-me a essa visão... O pensamento acompanha a coreografia. A alma respira e vibra. O corpo responde vida...
E a vida vai assim, como um acaso brincalhão, caindo de meus olhos como um caramanchão de flores trepadeiras de violáceas vibrações, quando um e outro entram na casa, brincando de estarem desnorteados, mas tão sorridentes por se saberem seguros num lar que os abriga. E a todos...
E eu, estátua apenas, mesmo com o coração aos saltos salto de vez para o mundo dos sonhos e começo a escrever este conto enquanto ainda ouço ao longe o bater das asas desta felicidade tão sutil que há pouco ultrapassou a porta e seguiu a sua busca de ninho. Assim como nós humanos que buscamos ninho em nuvens de vento.
Sigo a dança que avança rítmica por todo espaço da casa, agora entremeada pelo canto macio e leve que me faz flutuar.
Então, minha alma agradece aos parceiros com um breve aceno.
Até amanhã, passarinhos - peço eu, em silêncio. -

Nenhum comentário:

Postar um comentário