Conversando com a dor
só quando a dor exaspera paro para ouvi-la
ela fala de um certo esquecimento
e dos tempos onde tudo poderia ficar para depois.
Havia um tempo com cara de eternidade
e ele ainda olhava para o horizonte
como se o amanhã fosse absolutamente fictício...
A dor tem uma voz mansa, pausada
e levemente irritante
fala e fala e guarda no canto da boca um riso maldoso
de quem está prestes a dizer: eu avisei.
Ela tem nos olhos uma neblina
e quando a sinto profundamente
também não vejo nitidamente nada
que esteja a minha frente
E em noites frias
ela se agarra em meus lençóis
e me abraça demoradamente
Ficamos assim, eu a dor e a lua
a rastrear os tetos
e ouvir os sons do silencio
cochichados entre o levantar e deitar
De repente,
o sol amanhece e avisa a ela para partir
ela da uma rabiçaca e fala baixinho
- até mais tarde...
Só quando a dor vai embora
consigo adormecer em paz
Márcia Poesia de Sá