domingo, 6 de dezembro de 2015

Alada
A noite
Aceitou a ida
sentiu a brisa
gélida
despedida
E...
Acertou o tempo
sentiu o eco
e o fel
do silêncio.
A noite
concordou
foi cúmplice,
E ousou tocar o certo
e o errado...
A noite
Deslizou
quente
silenciosa
morna
fria
ventania
calmaria...
A noite
cuja tez mais alva
branqueou
pulsou veias
seguiu...
A noite da mais alta sinfonia
camuflou urros
surdos sussurros
A noite, anoiteceu!
Dançou
no mais branco breu
folha amassada!
Gaiola aberta
vendaval...
A noite
enluarou
ocultou
as bocas
estabeleceu
o silêncio
mastigou
estrelas
e cuspiu sangue
A noite
nomeou a dor!
estacionou
...os sonhos
Partiu flechas
e se foi...
E da noite
Só um ser sem ser
uma letra fluida
num lento
lamber de auroras
e o sinal
do tempo...
e este som de vento!
Ha noites
Em que a própria Poesia chora...
Fala manso,
e até sorri
mas ignora...
E no peito da noite
uma
farpa
vibra
ao
relento...
Alado
coração
na boca da noite...
nada não,
...só um
lamento.
Márcia Poesia de Sá.
Algumas tentativas jamais findam
Como não finda a linha que o oito circula
(e quando deitado está o oito
pior ainda)
Suspiros de poeta
Esta busca incessante, esse eterno escancarar
enfurna-se, raiar e se pôr...
Esta bipolaridade
e energias tantas a faiscar neurônios
Este silêncio absurdo!
Esta dor sem ser dor
e o sono que não dorme
e o arpão
correndo o mar vazio de peixes
E a certeira inexatidão
e os sonhos marolando...
e a fome .
E a fome da palavra
da lavra do dia,
do verde capim e da margarida.
E esta calmaria branda
eclodindo em cada vulcão incauto
E este maldito salto agulha!
E aquele amarelo âmbar a se exibir
Um pincel no chão, outro no céu
e a sede...
e a rede..
e a morte tácita
E o gole exaurido...
e o poeta maldito,
regurgito
E a estranheza estrangulando o corredor
e esta dor...
aquele sonho
Até quando vivem as borboletas?
e as muletas?
e as mutretas?
E a ira que se amofina...
e o câncer que corrói
a âncora que não voa
o albatroz exilado!
Alma no vão de todos os recomeços
e os azedos gostos
o limão...
o cão,
e essa solidão correspondida
Até onde caminha esta vida?
e a raiva manca?
o grito mudo
a surdez de tudo
E este cansaço infernal!
Márcia Poesia de Sá - 06.12.2012

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

- vontade de chorar?
- sim, sinto.
- e porque não chora?
- nem sempre posso ou devo...
- mas chorar alivia a alma, faça-o...
- sim, tens razão, mas é que as vezes
as flores que precisaram se transformar em pedras
desaprendem a chorar...

Márcia Poesia De Sá.



Enquanto o mundo todo parece estar deglutindo dourado, e o céu brilha como se o próprio sol fosse. Observo teus pinheiros de pontas e picos como lanças a tentar perfurar as nuvens que fogem, sou levada a suas casas de pedra, tantas historias elas sussurram entre si, logo ali um tronco desmorona e suas raízes expostas, rezam, clamam, pedem mas ninguém alem de mim pode escutar seu lamento, as folhas revoam atordoadas pelo vento que perdido em seus rodopios tenta ajudar. Inutilmente ...
Enquanto o mundo todo vira aquarela, eu vejo as fibras sedentas dos papeis insólitos. Eu ouço o soluço das manhãs, e sinto o frio das noites, nas pontes, pássaros se jogam no vento, no mar há um certo tom de saudade, e no tempo, um tempo que já passou. Sonhos empacotados, cartas rasuradas, e um imenso amontoado de coisas, apenas coisas que não valem mais nada. Sorrateiramente a menina bate a porta e desaparece na nevoa para nunca mais voltar. Sem adeus, sem bilhete, sem despedidas e sem choro. Simplesmente vai embora e fim. E enquanto o dourado anoitece, um silêncio quieto fala mais alto que o breu.

Márcia Poesia de Sá.