sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Além do mar

Entro em meus devaneios
Iço as velas dos desejos
Velejo em águas poéticas...

As horas passam como brisas
Meus olhos apenas te vêem
A cada espelho de ondas do mar

Ouço teu riso em gaivotas
Escrevo teu nome em grutas
E garrafas viajam, cartas de amor

Maremoto em meu coração
Velejo como um arpão
Direto e preciso ao teu peito

E além deste blue mar
Há um céu turquesa
Onde revoa meu destino

Aguardo tranqüila os dias
Onde na maresia
Verei-te chegar sorrindo

Adentrando de mansinho...
Poética e eternamente
Neste sonho tão bonito

Em forma de labirinto
Com água salgada de mar

Márcia Poesia de Sá
A nossa noite

Abro as asas dos desejos
Arpejos que me fazem sonhar
O céu se faz de moldura
Vôo num tom de te amar
Já não concebo a clausura
Entre o cobalto e o Prússia
Delineando um novo futuro
Nossos pincéis se cruzam
Na obra plena de um olhar
Os corpos entre nuvens flutuam
E sorrisos ecoam em cantos de estrelas
A lua soberana dama...
Esboça um sorriso...
Vendo o quão de paraíso
Fazemos do céu nosso altar
E nesta noite sem fim
Cometas vestem marfim
Há som de piano no ar...
O amor então, se faz absoluto!
E o céu vestido de luto
Goteja diamantes no mar...

Márcia Poesia de Sá
Ermitão por opção

Nada mais lhe aquece as veias
Calejadas ausências de pulsações
Ele já não enxerga, azul nem verde
Tudo se acinzenta na imensidão

Pé ante pé, ele segue lento
A mais um acalento, sem direção
Rastejante réptil carente...
Quase invisivelmente,
Nada num rio poluído de ingratidão

E então este ser, que até de si se torna ausente
Infelizmente sente, da solidão, a escravidão
Jogando-se de vez no silencio de línguas
Tornando-se por puro desejo um ermitão

E mesmo que em seus brados famintos
Exalem ainda alguma poesia...
Nada lhe tira da clausura infinita
De uma alma não lida
Um ser na escuridão
Por opção.

Márcia Poesia de Sá

Me alimenta


Sinto Fome de teu verso
De teu abraço em palavras
Da tua candura tanta...
Do peso de teus pensamentos

Sinto fome de poesia
E a sinto, todo dia
Como se ela não fosse
Minha eterna companhia

Acordo de estômago vazio
Azia de versos...
Dor de cabeça poética

Ando ficando esquelética
Preciso me alimentar de você...

Por onde andas querido?
Não deixe assim tão aflito
Meu peito já não consegue conter

Saudade eu sei que mata...
Mas se é saudade de poeta...
Ela mata e deixa rastro,
uma história em linha reta
A ser lida na estrada

Pois poeta quando chora...
Só nos vem pela memória
Os poemas em forma de gota

Então, meu amado...me escuta
Minha fome anda louca...
Se passares aqui perto...te peço
Põe um pouco de ti, na minha boca.

Márcia Poesia de Sá

Entre desertos e mares


Hoje voei sobre um deserto
E o ar fazia-se quente e incerto
Numa metamorfose furiosa, mal senti
Que em minha mente se formava
Uma tempestade de sentires

Enquanto vôo me abandono
Largo a consciência e abraço o sonho
Entregando-me assim a teus ventos
Em lençóis macios de poesia

Tudo em mim, já ferve! Uma agonia
E como vulcão erupciono
Tantas imagens loucas
Pintam em carmim, imagens roucas

Poesia, minha alma te anuncia!
Entrego meus olhos a teus desertos, denuncia
A urgência lúdica de mim em ti
E de ti, pressinto borbulhas...
Em horas caladas das luas
Quando cerras teus olhos a dormir

Tão abrasivo como o fogo
E ao mesmo tempo, terno como o ar
Deixa-me deserto em ti voar?
Observar teus vazios
E me deixar, planar...

Belo e raro espécime da natureza
És poesia em lenços soltos ao vento
E eu tento, sentir-te ao meu lado, em fantasia

Mas já não sei se vago, ou me perco
Pois se tu és gigantesco diserto
Esteja certo, que gigante também sou...

Embora diferentemente de areia quente
Sou a acolhedora temperatura de um mar aberto
Contemplando teus antigos sonhos, com o presente
Uno a terra e o mar, emocionadamente

E viajo em asas de sonhos, quase sem rumo...

Márcia Poesia de Sá

Refém do amor

Há certamente muito
Ainda na espreita
O tempo ainda
Não fez a colheita
De tua alma lida
Todas as linhas

Más há algo de dúbio
Em tuas entre linhas
A lírica doçura d’alma
Acorrentada a apimentados climas

E esta veia de outras terras
Sob arcos dos encantos
Fazem naufrago meu pranto
Nas distancias destes mares

Percebo aroma de incenso
E em curvas, belas curvas!
De imagens a mim, imaginárias
Perco o leme de minha nau
E totalmente a deriva me deixo

Sonho, tuas mãos abissais
E olhos profundos como um cais
Neste meu sonho, te vejo

Se a minha poesia voasse
Iria a templos antigos
As mesquitas e as cúpulas
Deste sonho ainda aflito

Como sol ardente de doiradas tardes
Algo em meu peito aquece e explode
Iluminando a alma, que te busca em disparate

Pois se meu amor seria de ti refém
E minhas mãos só para ti criariam arte
Sendo eu tua prisioneira num paraíso a parte

Digo:

Rapte-me antes que seja tarde...
Pois minha alma já te sente no vento
Enquanto a tua...
Cavalga livre em meu pensamento

Márcia Poesia de Sá