terça-feira, 23 de agosto de 2011


Aquela casa

havia algo naquela casa que até hoje para mim é difícil descrever. Era uma rua aparentemente comum, com casas basicamente parecidas entre si. mas a ultima casa tinha em suas costas folhas e folhas, tanto da jaqueira quanto das jabuticabeiras e o cheiro era inesquecível...
as janelinhas quadriculadas e lindamente adornadas pelas cortinas de renda branca davam o exato tom das historinhas contadas naquela sala.

ainda me recordo do coração apressado a bater no peito ao tocar a imensa porta branca com seu sininho dourado, e escutar a voz doce que vinha de lá de dentro: só um instante já estou indo...
ela aparecia na porta não raramente com um avental e o cheirinho de bolo quente saia da casa juntinho com ela...o abraço, o beijo...e a frase de sempre:

Hoje teremos historinhas, que bom!

eu sorria e me entregava aquele abraço que me levava sempre a todos os mundos que as historias dela sempre me levavam também.
Minha avó devia ser fada ou bruxa não sei...mas certamente ela tinha algo de mágico.
conversava levemente com meus pais até que eles fossem embora...e só ai seus olhos se iluminavam, virava criança...pegava os bolinhos pequeninos, o chocolate quente e sentávamos no tapete da sala onde de lá zarpávamos aos todos mundos de sua criação...

até hoje fico a pensar...eram só histórias ou saíamos mesmo...
sinceramente não tenho certeza...
tantas vezes acordei de um sonho em seu colo, e só sentia seus dedos em meus cachinhos e ao abrir os olhos só via aquele sorriso maroto de quem acabara de voltar ao corpo.

Saudades daquela casa...

dia desses passei por lá, desci do carro e entrei na matinha...juro que senti os vôos das vassouras e os risos das fadinhas azuis.
Voltei ao meu mundo com cheiro de bolo quente...e uma saudade em cachos maduros.

Márcia Poesia de Sá

segunda-feira, 15 de agosto de 2011




Despertar

acordo á bordo do mar
borbulhar de peixes e lanchas
lançam arpões em mim

guelras me trazem o ar que não ha
impulsiono-me em direção ao céu, sigo

languida superfície verde, me abraça
sinto o perfume dos caquis maduros
e a distancia da ilha
me puxa para baixo novamente

mergulho-me, caço-me...
busco-me

encontro arraias e tubarões
baleias e sereias irmãs

sou e não sou parte deste todo
salgado engodo
lodo de verdades
em azuis mortandades

mergulho
afundo
morro e renasço
dentro de mim
um navio de aço
a enferrujar lentamente

mente de sal e poesia
degradação

sol a pino
sal e sino
adeus e bom dia

sou peixe frito
na mesa do navegador

e preciso suportar...
mais um dia!

Márcia Poesia de Sá

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Arte arde

arde...
arde como ardem as estrelas em pleno dia
arde arte!
queima esta monocromia
coma esta fome rara
degluta esta minha agonia

arte vicia
vicia, como viciam os prazeres
e este vicio é todo dia

garganta
colo de melancolia
peito de mãe que amamenta
gotas de leite
branca poesia

a arte arde
dentro e fora
da mente
que mente ser arte
a arte que a gente sente

berram os silêncios em noite quente
ardem as artes dentro...
impotente.

Márcia Poesia de Sá - 05.08.2011