quarta-feira, 14 de setembro de 2011


Conversando com a dor

só quando a dor exaspera paro para ouvi-la

ela fala de um certo esquecimento

e dos tempos onde tudo poderia ficar para depois.

Havia um tempo com cara de eternidade

e ele ainda olhava para o horizonte

como se o amanhã fosse absolutamente fictício...

A dor tem uma voz mansa, pausada

e levemente irritante

fala e fala e guarda no canto da boca um riso maldoso

de quem está prestes a dizer: eu avisei.

Ela tem nos olhos uma neblina

e quando a sinto profundamente

também não vejo nitidamente nada

que esteja a minha frente

E em noites frias

ela se agarra em meus lençóis

e me abraça demoradamente

Ficamos assim, eu a dor e a lua

a rastrear os tetos

e ouvir os sons do silencio

cochichados entre o levantar e deitar

De repente,

o sol amanhece e avisa a ela para partir

ela da uma rabiçaca e fala baixinho

- até mais tarde...

Só quando a dor vai embora

consigo adormecer em paz

Márcia Poesia de Sá