sexta-feira, 29 de outubro de 2010




Em mim

Eu queria me entender, abaixo da plácida água de meus pensamentos. Queria escutar melhor meus silêncios... E navegar neles como barco sem vela, a deriva de mim... Despencar em todas as cachoeiras de sentires e ver meu sol nem que fosse de longe, nascer a cada manhã.

Eu queria entrar em meu próprio corpo e passar a mão em minhas artérias, ver meu coração bem de pertinho, escutar o som que ele faz em determinados momentos... Quem sabe até assistir ao grande acontecimento. A pausa... O fim.

Eu queria reler as histórias que minha pele guarda a sete chaves de mim mesma, escancarar meus segredos guardados lá dentro daquele livrinho estranho, chamado subconsciente... Poucas vezes eu o vejo passar nas mãos dos sustos e dos déjà- vus...

Eu queria saber das coisas que jamais disse e porque não disse? Porque fiz questão de guardar algumas dores tão bem guardadas que as perdi... Hoje não sei onde elas estão, mas sei que existem.

...ah! Eu queria ler minhas não escritas, entrelinhas...

Ter a chance de me ver por dentro, o mais dentro que eu pudesse chegar, e ser tão profunda em mim, que acabasse por perder o caminho de volta.

Por onde será o caminho da entrada, que me levará ao âmago do meu vazio?

Ou aos lagos onde tão repleta, me banharia de mim, do mais cristalino eu que já vi...

Eu preciso me entender, para me desentender com minhas interrogações infindáveis e quem sabe assim, eu consiga me responder... Neste infinito questionário de duvidas, onde adormece a pena cuja tinta é feita de sangue.


Márcia Poesia de Sá

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Quem me dera

Ah! Quem me dera
Ser uma nuvem passageira
Ter dias abarrotada de chuvas
E dias de puro ar...
Ter teus olhos me seguindo no céu
E teu desejo de em mim
Flutuar...
Ah! Quem me dera andar pertinho de ti
Estrela encantada a cantar...
Vejo-me nuvem
Em cada raiar do dia
Mas desapareço quando a lua vem
Ah! Quem me dera
Ser só a imagem branca
Que com tantos brancos se pinta...
Queria ser a chuva a me desfazer no céu
Entranhando teus pulmões de cheiro de água...
Ah quem me dera...

Quem me dera...

Márcia Poesia de Sá

Memórias da rosa

Ainda posso sentir teu cheiro
E por mais que eu me banhe de dias novos

Aqueles dias não me saem da pele...
Replantei as margaridas
E tantas idas e vindas...

Mas no jardim floriu outras flores
Sinto tua presença na sua ausência
E aquele sorriso lindo
Ecoa firme e infindo dentro de minha saudade

Ah! A saudade das pétalas
Que deve sim! Sentir a Rosa
Quando é abandonada por elas a secar...

Do trono do caule
Ela apenas as observa voar
E chora, sei que chora!

Como choro eu...
Ao não te ver voltar.

Márcia Poesia de Sá

terça-feira, 26 de outubro de 2010


Galho D’água



Vejo-te como galho d’água

Exposto e vitrificado em minha memória

Nos teus galhos já não há mais frutos

E as folhas em cristais translúcidos

Despencam de ti, como antes, fizeram meus sonhos...

Vejo-te como tronco retorcido

E na pele do antigo toque, arrepio

Não mais de prazer, mas de frio!

Na gélida sensação de silêncio e vazio

Onde o vento já não derrete nada mais...

Vejo-te assim, como foto de postal

Intacto fractal de vidro

Insano, insensível, irreal.

Teatral passado esquecido

E dos frutos já apodrecidos

No solo que antes, era tão florido

Nenhuma semente jamais brotará

Vejo-te como galho d’água...

Eternamente congelado por este meu olhar.


Márcia Poesia de Sá

Quem será que habita o interior de minha pele?

E por onde será que anda as outras faces de mim?

As épocas recoloridas da memória frágil

Que assolam meus sorrisos de alfenim...

Crianças que correram em escadarias

Subindo e descendo suas bonecas

Trocaram suas roupas tantas vezes

Que hoje não encontram suas cobertas

Congelam no inverno da idade

A Pradaria que em folhas ferve!

Brincando de ser adulta se surpreende

Com laços de fitas que envolvem sua verve

A tênue lira que tocava sua pele

Enferrujou por pura falta de maresia

Contraponto desta minha fantasia

Que em mar absoluto me inebria

Márcia Poesia de Sá

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

NO DIA DO POETA...MÁRIO QUINTANA

Um passarinho pousou por aqui..

PEQUENO ESCLARECIMENTO


Os poetas não são azuis nem nada, como pensam alguns supersticiosos, nem sujeitos a ataques súbitos de levitação. O de que eles mais gostam é estar em silêncio - um silêncio que subjaz a quaisquer escapes motorísticos e declamatórios. Um silêncio... Este impoluível silêncio em que escrevo e em que tu me lês.

Mario Quintana - A vaca e o hipogrifo
Parabéns a todos os poetas...- 20.10.2010

Os que rasgam a alma...
Os que apenas a leem...
Os que descrevem beleza...
Os que tateiam a rima...

Os que de Deus se assemelham...
Aos que em Deus nem crêem...

Aos que rabiscam emoção...
Aos que dizem que poetas, não são...
Aos que escrevem o sentir...

E aos que só fingem...

Poetas!

Todo o meu carinho neste dia!!!

Parabéns!

Márcia Poesia de Sá

Hoje me pego a pensar no porque da escrita...

No porque desta necessidade tão entranhada nos seres humanos de deixarem pegadas

Pegadas estas entalhadas no mundo, lembranças, sentimentos, pensamentos...

Ou apenas a pura imaginação pintada em linhas, cores

Dores, amores...

Porque precisamos registrar?

O que será que move esta necessidade do homem?

Não vejo passarinhos marcando seus ninhos com nomes...

Nem vejo os peixinhos fazendo isso...

Se bem que há um pássaro lindo que vi em uma reportagem da National

Que decora os ninhos, já viram?

É lindo! Ele caça mesmo coisas coloridas

Qualquer coisa e decora todo seu ninho com bugigangas que encontra...

Talvez ele esteja se aproximando de nós artistas

Viciados em beleza

E talvez sendo mesmo...uns doidos!

Que crêem ainda poder criá-la depois de tanta beleza já disseminada na natureza

Bem, cansei de questionamentos...

Acho que somos assim e ponto.

Preguiça? Talvez...

Mas as respostas humanas são tão várias que de nada adianta eu dar a minha

Sou só mais uma voz na multidão de ecos...

Márcia Poesia de Sá

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Hoje vim reler, a min’alma, que de tanto falar, às vezes cala

E me deixa sem saber o que fazer...

Sabe, é como quando nós estamos em um lugar muito barulhento

E de repente agente para de escutar.

Isso acontece com vocês?

Comigo acontece sempre.

Ou quando o assunto não me interessa...

Ou quando me irritam as futilidades...

Ai, desligo os botões

Mesmo não sendo intencional

Alivia muito...

Entro no meu mundo e fico lá a meditar, ou escrever mentalmente minhas linhas

É bem melhor ali...

Mas hoje minha alma doeu!

Uma dor intensa e não identificada

Ou ao menos, que eu não quis identificar, ainda...

E ainda não quero

Na verdade eu só quero tatear o sentimento

Mas não compreende-lo na lógica

Penso que esta lógica pode fazer com doa mais

E hoje não estou masoquista.

Penso que algo deva ter magoado uma antiga dor

Mexido em cicatrizes aparentemente curadas

Ledo engano... Cicatrizes da alma são raras de curar

Elas só são esquecidas.

A proximidade pode doer!

Enquanto que uma ausência ou uma distância observada

Pode até mesmo nos dar a impressão de cura

Impressão... Impressionismo...

Veio-me a mente uma tela de Monet

Onde chamas amarelas tomam um navio

Na verdade creio que seja mais ou menos isso que estou sentindo...

Boca fechada... Olhos mirando além...

Vendo quase uma miragem riscada em grafite

Quase apagada...


Perdendo em detalhes...embora vívida em siluetas...

Mas sinto as labaredas na garganta!

Márcia Poesia de Sá