quinta-feira, 8 de julho de 2010

Cacos caminham calmos

Omoplatas avermelhadas rastejam por cima de uma coluna de dores
Que assegura que a direção não se perca.
Olhos quase cegos apertam a imagem
Que na horizontal se forma diminuindo assim o foco, tentando mirar
Tal qual uma flecha bêbada no ar.
Passos lentos, ondulantes na vertical... E la segue, o caminhante.
Nas bordas do traço cinza e frio, destino dos que vão...
Aqui ninguém volta! É uma BR sem placas, sem destino, sem vitórias, desatino...
O etéreo ar que lhe invade os pulmões até parece que o infla, como a um balão...
Pobre criatura oca, rasgando o espaço do nada.
Mas a ele nem importa que o nada esteja avançando, ele próprio já se sente nada...
Ou talvez nem se sinta... Só caminha a lugar algum e sem pressa de chegar.
Triste figura, nada literária... Traço pequenino na vertical, de uma linha horizontal infinita...
Lonjuras tantas... Pobre ser.
Passo a passo ele se aproxima do desaparecimento inevitável de meus olhos.
Sumindo assim na paisagem, tal qual miragem.
Nem sequer havia neblina para deixar mais bucólica a imagem, era crua, doída e raspada...
Como telas de texturas feitas em madeira...
Creio que Portinari pintaria uma tela se te visse, pobre ser caminhante na BR, onde o vento quase te leva com ele.
E o zum zum de carros velozes ao teu lado, nem percebe tua presença...ou seria tua ausência?
E a fumaça de caminhões mal regulados, te cobrem em negro manto, de quando em quando...
Adeus, triste figura.

Que os quilômetros te sejam brandos.

Márcia Poesia de Sá

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