domingo, 15 de agosto de 2010

Um fio de luz na minha paleta

Era madrugada, quando abri os olhos, e surpresa avisto na escuridão do quarto, uma luzinha que piscava incessantemente no teto. Ainda sonolenta imagino ser um vaga-lume, fecho os olhos novamente, já que o corpo estava ainda sem disposição para abrir a janela e libertá-lo.

E em meio à tentativa do retorno ao sono, começo a ver mesmo que por sobre as pálpebras a luzinha piscando ainda mais perto! Abro os olhos e a vejo, absolutamente perplexa!

Era tão pequenina, mínima mesmo! Com seu corpinho de mulher, extremamente bem delineado, cabelos levemente dourado, e um sorriso encantador.

Nos olhos trazia toda a essência da alegria, por traz de seu corpinho em tons de verde e azul brilhante, longas asinhas tremulavam ainda mais rápido que a dos colibris, carregava nas pequenas mãozinhas toda a pressa, que demonstrava, ao sacudi-las freneticamente para mim, como se quisesse que eu me apressasse também.

Neste momento me dou conta do absurdo do que estou vendo, e me assusto...

Ela some e torna a aparecer a luzinha apenas, que ainda mais rápido pisca e pisca.

Tento adormecer. Chego a imaginar que aquela belíssima visão, foi só imaginação de quem escreve e pinta... Vai ver foi porque ontem eu passei boa parte da tarde fazendo gnominhos de biscuit...

Mas de nada adianta, a tentativa de colocar lógica no que era absolutamente real. E com os olhos fechados, escuto em meio ao som de asas, um chorinho baixinho...

Abro os olhos e desta vez sem medo, mas decidida a saber o que era aquilo.

À vejo sentadinha na ponta de meu travesseiro, abraçada com as perninhas, cabecinha baixa, chorando... as asinhas neste momento me deixam ver veios dourados, parecia mesmo um bordado, era linda...e trazia na face um certo brilho de purpurina...

Pergunto:

- quem é você? Como posso te ajudar?

Ela rapidamente levanta a cabecinha, impulsiona o corpinho para frente e voa para bem perto de meus olhos! Não consigo compreender o que ela diz uma voz um tanto estranha, até parece som de metal sendo polido... Mas as mãozinhas voltam a tremular frenéticas!

Decido me levantar... E ao mais breve movimento meu, ela vai se afastando rápida e me direcionando a porta do meu quarto, sigo-a.

Passa pela cozinha, corredor, dando pequeninas cambalhotas em meio ao vôo, como se estivesse muito feliz e pára na porta de meu ateliê, bem pertinho da fechadura. Ponho a mão devagar, pois temi machucá-la, neste instante avistei um largo sorriso do serzinho lindo.

Abro a porta e vejo neste instante, uma das cenas mais lindas que já vi na vida...

Lembrei-me que na noite anterior, havia esquecido a maleta de pintura aberta, e deixado uma tela branca recostada no chão, esqueci de colocá-la no cavalete e cobrir.

Pois esta mesma tela estava quase que toda pintada. E sobre ela neste instante havia uma centena de luzinhas como a que me acordou há pouco...

Na tela, em tons divinos, a paisagem de uma mata, ainda escura, mas com raios de luz e cor por toda parte, e na parte inferior, um lago transparente com pedrinhas no fundo... Aproximo-me, e a luzinha que havia me acordado, neste instante senta-se em minha mão, como se quisesse mostrar-me o que fazer. Sento no chão mesmo, olho os meus pincéis, mas antes que eu pegasse algum, uma luzinha verde traz para mim um pincel diferente... Quase transparente...

E vejo ai, em seus pelos depositado com muito, cuidado... um pozinho prateado.

A luz ai se transforma em outra mocinha, senta-se em minha mão e direciona meus dedos por sobre o pincel... Puxando-me lenta e suavemente para a tela. E quando avisto em meio à mata, num galhinho quase imperceptível... Uma pequena borboletinha presa na tinta, ela me parecia também ser pintada, mas seus olhinhos eram reais e estavam angustiados. Passei o pincel repleto de brilho sobre ela... Que neste instante, se solta da tela, revoa feliz sobre mim... E pousa na minha mão e rosto, deixando em mim um caminho de brilho. Volta à tela e desta vez pousa numa pedrinha do riacho, que se sobrepõe a água. Neste momento a borboletinha vira só pintura.

A luzinha que me acordara, aproxima-se de meus olhos sorrindo, e com as mãozinhas mais calmas abraça meu rosto e sinto um beijinho gelado.

Todas as luzinhas voam em um movimento ritmado, fazendo uma estranha e bela forma circular que se desfaz em fio na frente de meus olhos... E zarpam com rapidez para dentro de minha paleta...

Suspiro, inebriada... E me pego a observar mais atentamente a tela em minha frente, começo a perceber vários desenhinhos pequeninos... Fadinhas nas arvores, gnomos escondidos por entre os matinhos... Que tela maravilhosa, e os seres são quase imperceptíveis, mas estão ali como pintura... Corro os olhos rapidamente para o lugar da assinatura, afinal eu não havia pintado aquela tela...

E a surpresa foi espetacular!

Havia escrito no lugar da assinatura num lindo tom dourada e certamente a assinatura mais bem feita que eu já vi:

Márcia Poesia de Sá

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