terça-feira, 11 de janeiro de 2011


Calmaria insana

Ouvia passos, e a luz da lua na praia em calmaria me permitia ver toda a paisagem, não via ninguém indo ou vindo, mas mesmo assim escutava os passos...
Sentada na marolinha, a água morna me molhava os pés, e as casinhas da beira mar estavam todas escuras, não fossem um ou outro lampião ao longe. De repente vi os passos marcados na areia, só as marcas!

... E a lâmina fria que me adentrava a pele sem doer.
Passeava gélida por minhas entranhas como se buscasse algo la. Meus olhos apenas a observavam calmamente como se nada de errado estivesse acontecendo. Um rio vermelho começava a umedecer a areia e caminhava quente e manso para o mar.
Uma onda o encontra e em tantas cores o desfaz.

Subitamente a lâmina começa a sair e em um brilho estranho algo na ponta é seguro pelo vento, parece uma pedra... Mas há fios que se esgueiram dela... A lâmina começa a desaparecer de perto de mim... Saindo da minha pele, e flutuando de volta ao mar lentamente e o rio vermelho que eu pensava que iria embora nas águas salgadas começa a retornar...

Vai saindo da profundidade da areia... Encontra minha pele e penetra lento... Quente, ainda mais quente que quando saiu... Os cortes unem-se, como se realmente nada tivesse acontecido, sinto um gosto de sal na minha boca, e uma gota do sangue que havia pingado em minhas coxas, é apanhado pelo meu dedo...lambo-o...e qual não foi minha surpresa, não era sangue, era só um gosto de mar.

O sol então começa a raiar... Levanto olho às casas ainda todas fechadas, estou só e um ar muito estranho me embala de volta a minha casa, lembro da pedra, procuro-a, mas é inútil, ela sumiu juntamente com a lâmina...e com todos os meus medos. E o vento me avisa em uivos, chove em Veneza.

Márcia Poesia de Sá

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