havia algo naquela casa que até hoje para mim é difícil descrever. Era uma rua aparentemente comum, com casas basicamente parecidas entre si. mas a ultima casa tinha em suas costas folhas e folhas, tanto da jaqueira quanto das jabuticabeiras e o cheiro era inesquecível...
as janelinhas quadriculadas e lindamente adornadas pelas cortinas de renda branca davam o exato tom das historinhas contadas naquela sala.
ainda me recordo do coração apressado a bater no peito ao tocar a imensa porta branca com seu sininho dourado, e escutar a voz doce que vinha de lá de dentro: só um instante já estou indo...
ela aparecia na porta não raramente com um avental e o cheirinho de bolo quente saia da casa juntinho com ela...o abraço, o beijo...e a frase de sempre:
Hoje teremos historinhas, que bom!
eu sorria e me entregava aquele abraço que me levava sempre a todos os mundos que as historias dela sempre me levavam também.
Minha avó devia ser fada ou bruxa não sei...mas certamente ela tinha algo de mágico.
conversava levemente com meus pais até que eles fossem embora...e só ai seus olhos se iluminavam, virava criança...pegava os bolinhos pequeninos, o chocolate quente e sentávamos no tapete da sala onde de lá zarpávamos aos todos mundos de sua criação...
até hoje fico a pensar...eram só histórias ou saíamos mesmo...
sinceramente não tenho certeza...
tantas vezes acordei de um sonho em seu colo, e só sentia seus dedos em meus cachinhos e ao abrir os olhos só via aquele sorriso maroto de quem acabara de voltar ao corpo.
Saudades daquela casa...
dia desses passei por lá, desci do carro e entrei na matinha...juro que senti os vôos das vassouras e os risos das fadinhas azuis.
Voltei ao meu mundo com cheiro de bolo quente...e uma saudade em cachos maduros.
Márcia Poesia de Sá