quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Casulo das asas

Me foi dado uns dons distorcidos, 
umas visões aprisionadas em claustros
e alguns sentires exagerados. 
Foi-me encravado na lâmina do peito umas saudades incandescentes, 
umas esperanças que jamais fenecem, 
e a insistência míope que a tudo crê
Foi-me pintado nos olhos, algumas nostalgias esverdeadas
e canções de outras épocas que não foram minhas,
e desde cedo sempre foi assim,
nasci com o peso das almas velhas,
num franzino corpo de criança que sempre lutou para respirar.
Meu pulmão não nasceu com toda a sua capacidade
mas a vida o fez aprender a puxar o ar para não morrer
e isso me fez hoje uma grande mergulhadora de terras liquefeitas.
Hoje meu ar é tanto que perco o chão com a facilidade das aves
E ainda consigo ver milagres,
onde o caos teima sua presença.
Não ha qualquer glória na morte!
a morte é como uma porta
que nos leva para tudo que o é aqui
E portanto uma inútil fuga.
Fui construída lentamente por pequenos cubos de açúcar
Favos de mel e duma doçura diversa e de alguns galhos de espinhos
que a vida tratou de cimentar.
Me foi dado uns dons estranhos...
como este de voar e ainda cantar alforria,
apesar do peso nas asas.

Márcia Poesia de Sá.

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