domingo, 9 de fevereiro de 2014

Visão interna

Ah...e esta sua incrível maciez que tentas tanto guardar, esconder, como se possível fosse, de mim, esconder o que quer que seja. E esta doçura toda que mais parece um abraço, que tentas fantasiar de educação. E este menino que ainda vive em ti, pulando escadarias e tocando campanhinhas pelos andares de tua vida, para mim, apenas olha maroto, e pisca o olho direito num sapeca sorrisinho que me diz que ele sim, te conhece. Ele sim, sabe de teus medos e das coisas que nem sempre queres lembrar e no entanto , rondam tuas atitudes muitas vezes tão longe da essência que te constrói por dentro. Nós temos isso sim, quem sou eu para julgar uma alma tão rica, ou seja lá quem for, tenho em mim uma humildade plena, e gosto de imaginar que todas as pessoas tem suas lições a aprender e que a nós só cabe aprender as nossas, e estar ali do lado daquelas que amamos para ajudar no que for possível, quem sabe um abraço na hora da dor, uma palavra amiga quando tudo parece vazio, um empurrãozinho quando a descrença quer abraça-las, e até chorar junto quando a perda é irremediável.
Mas também acredito nos sorrisos compartilhados, uma piada pode fazer raiar o sol no dia de alguém, acredito nos brindes nos sucessos e na incrível força que ha no afeto verdadeiro e desinteressado, acredito que a vida nos vai talhando veios, machucando calmamente nossos picos ilusórios, como se nos quisesse deixar mais suaves na paisagem, ela vai aniquilando tanta coisas em nós, apagando alguns brilhos que na nossa juventude mais parecem diamantes ao sol, e na nossa maturidade, apenas meros strasses...
Mas mesmo assim, esta minha alma repleta de sonhos e poesias ainda crê em coisas suaves e harmoniosas, em sentimentos verídicos e quentes, que podem sim, trazer a tona o doce perfume da época das inocências, podem sim, trazer-nos aos olhos as estrelas que julgávamos tão distantes de nós, quiçá impossíveis de serem novamente tocadas.
Ha de se ter humildade para se tocar de leve a face da felicidade. Os orgulhos, os medos de parecer ridículo, fraco, apaixonado ou bobo nos distancia tanto da nossa essência real. E você, especialmente você, com quem falo agora, pare e pense um pouco, tente imaginar o que de verdade o faria sentir plenitude de alma? o que seria capaz de amornar seu peito ao ponto de fazer você colocar a mão no coração tentando fazê-lo não pular para fora as cambalhotas!
Pense bem...Muito provavelmente em nada tem a ver com o que seu cotidiano o impulsiona a fazer mecanicamente dia após dia enquanto seus meses e anos escorrem pelas mãos...Precisamos de muito pouco de fora, e tanto de dentro, para que o nosso sorriso seja encantadoramente iluminado e visceralmente completo. É, eu venho buscando-me milimetricamente ha alguns anos, ah...já encontrei em mim tantas gavetas trancadas, tantos papiros amassados por de baixo de minhas estantes de certezas, e tantos "nunca mais!" que vi virarem pó em frente aos meus olhos, que hoje, acredito mais, é no silêncio da minha mente e nos cochichos baixinhos que diz meu coração, nos momentos em que paro e apenas observo meu sentir enquanto meus olhos passeiam pela natureza, pela arte ou por uma linda e irresistível folha de papel em branco.
Querido! nós somos uma folha de papel em branco! infelizmente os anos vão nos ludibriando, e ha momentos em que de fato, parece-nos que somos um livro finalizado, repleto de vícios e imutáveis como os antigos contos de capa dura...mas de verdade a capa dura é nossa responsabilidade! nós as criamos para proteger nossas frágeis folhinhas de simples papel. Papel que se amassa, se rabisca, se rasga pela vida e as vezes até incendeia, nos fazendo perder as esperanças de tudo.
Cabe só a nós, reacender o coração, iluminar os sonhos que ficaram jogados pelos cantos das ingratidões, das descrenças, dos desamores, das mentiras, e acesos eles, começam a clarear de novo tudo ao seu redor, a coragem de adoçar-se novamente deveria ser mais que uma meta, deveria ser um caminho e não tenha pressa, quão mais dolorida é nossa alma, maior ela se torna, portanto ha muitos cômodos a serem revisitados e docemente limpos, ha de se abrir as janelas de cada um deles, deixar que o sol remova toda a frieza que eles sempre guardam, ha de se trazer flores para dentro da alma e permitir que lentamente elas comecem a exalar seus perfumes...
Não tenha medo! afinal é só você...mas não o você que aparece no espelho pela manhã quando a pressa te empurra para a vida, mas o você que se permite em um dia de total folga e tempo, sentar-se na beira de um lago, olhar dentro de seus olhos, e dentro dos olhos no reflexo da água limpa, adentrar sua própria retina e descer calmamente por teu interior, com todo o carinho que só você pode se dar, veja sua criança agora, acuada pelos brandos dos anos, pegue-a pela mão, afague-a...tudo que ela precisa hoje pode dar a ela, ame-a como poucos souberam amar, diga-lhe que agora ela está segura e que nada poderá machuca-la porque hoje você pode de verdade cuidar dela, protegê-la e ama-la no mais profundo sentido que estas palavras carregam...
Depois disso, abra os olhos novamente e verá que seu mundo pode verdadeiramente ser como uma brisa numa praia bonita, que seu caminho pode sim, ser pegadas numa areia fofinha, e que o sol e a lua podem sim ser de encantamento puro! enfim, quem sabe neste dia você compreenda que o tempo perdido, nem foi perdido, foi só a escalada necessária para fazer de você o que é hoje, para fazer deste momento do reencontro com você algo mais que especial! e ai, possa de verdade ver, sentir e acreditar...que o amor existe! e que ele apesar de ter demorado muito para chegar, acaba de ancorar na sua vida e quem sabe, desta vez, tenha vindo para ficar.

Márcia Poesia de Sá - 2014

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