terça-feira, 24 de junho de 2014

Lá fora, cá dentro! 

Lá fora a natureza abençoa o dia, as gotas de cristalino brilho escorrem lentas pelas tonalidades infindas de tantos verdes das folhas que mais parecem aquarelar-se por entre veios que desenham na textura do dia uma calma que pulsa. Pulsa e bate como corações. 
Um silente batimento ritmado soa de dentro para fora da mata em ondas invisíveis, e das nuvens que despencam em gomos caem todos os choros guardados por tantos séculos assim, esquecidos.
Lá fora a natureza canta a canção das florestas, em notas e gotas de chuva, lavando cada veio, cada canto, cada ínfimo milímetro do sonho que por ora sonhas, sem ao menos saber, o que acontece do outro lado de teus olhos. O cheiro de terra molhada invade-me os pulmões alargando cataratas, e fazendo com que os rios sigam seus rumos , contornando os obstáculos como se fossem apenas pequeninos seixos do caminho, nessa busca incessante d'algo que ainda que ainda não se sabe, mas que é tão nítido na essência, que quase consigo sentir na pele. Subitamente já não mais tem nada a ver com a mata, nem com a chuva que insistentemente cai a levar e lavar tudo, filtrando a terra toda num mergulhar de paz...
Subitamente, já não se trata de espíritos afins, percorrendo seus caminhos mesmo que plasmados em seus destinos, e corpos aparentemente distintos e de mãos dadas com o amanhã, subitamente já não significa que a vida deu uma pausa na rotina de listras e começa finalmente a riscar arabescos de tons suaves, não! não é apenas isto. Atravessamos os portais mais árduos e longínquos, durante nossa solitude apenas olhamos as marcas que fazíamos nas areias do tempo e nos cansaços observávamos os rastros que aos poucos sumiam nas dunas a moverem-se como andarilhas de algo que ainda não sabemos. Mas hoje, algo se faz magia! a paz liberada por cada amanhecer lento e terno, acumulou-se em nuvens que agora parecem que desabam dos céus, em gotas de puro cristal a confundirem-se com as lágrimas que de meus olhos escapam e penetram na terra, uma outra vez...Enquanto as notas do piano são dedilhadas numa oração que vaga pelo vento, abençoando você e todos.
Os papiros guardados estão neste exato instante sendo encontrados e desenrolados por mãos de peles mais sutis que a brisa que sentimos nas manhãs. Na sala amparada por raios brancos, em cujas paredes só o claro há, fachos de luz de médio tamanho caminham como se não tocassem no chão, são leves na mais contundente expressão da palavra. Não sei o que levam ou se algo trazem, ou para onde vão, apenas os vejo passar e atravessar portas que ainda não sei aonde levam. Nesta breve visita de menos de um segundo, apenas vejo os rolos e rolos de papiros sendo abertos, infiltrarem-se de luz e depois desaparecem no ar, como por encanto.

Márcia Poesia de Sá. - 23.06.2014

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