Navegar
Ela simplesmente entrou no barco frágil, sem remos e sem velas e partiu. Assim, sem explicações, sem frases escritas em bilhetes pela casa e sem despedidas. O céu estava cinza e o dia mais parecia namorar a noite. A água que levava aquele barco estava calma, reflexos de gordas nuvens dançavam na mansa marola que soprava como se houvesse uma música triste tocando ao fundo da paisagem, mas na verdade só havia um silêncio que a ensurdecia.
Alguém regia um abismo por entre aquelas árvores ao longe. Ele, de pé, agarrava os ferros da ponte como se implorasse para que eles movessem-se e a fossem buscar, estático instante onde seu casaco preto era a unica pele que ele sentia como sua, o corpo atônito não compreendia os porquês.
Sua boca silenciava o amargor da saudade dos beijos, suas mãos trêmulas jamais esqueceriam aqueles toques, ele era um ponto preto na paisagem, e ela sumia no horizonte mais uma vez.
Aquele homem soltou os ferros, e em passos mais que lentos seguiu seu trajeto absolutamente perdido de tudo, na cabeça aquele manto prateado brilhava em flaches de tantas histórias que agora mais pareciam apenas papiros abandonados ao acaso.
Ele caminhava ao labirinto, pegou o primeiro táxi que passou e disse com uma voz abafada: tire-me daqui.
Seus olhos perdidos na distância de si e de tudo, apenas contavam postes que passavam sem luz.
Seus olhos perdidos na distância de si e de tudo, apenas contavam postes que passavam sem luz.
E nesta manhã não choveu e nem fez sol. Era tudo da mesma cor, desbotada e embranquecida. Lá no barco que seguia, só uma lágrima caiu..
Márcia Poesia de Sá.