Fria paisagem II
E os cães ladram... A mata silenciosa sussurra seus segredos e algo escorre entre seus troncos retorcidos. Uma navalha fria corta o vento, e o capuz não me deixa ver muito mais que um certo tom de prata delineando um maxilar forte. Seria este ser um espectro? Ou um guardião silencioso do mais profundo segredo...
Apenas águas vejo, não sei que cor elas exibem, aqui tudo tem a mesma tonalidade sombria das noites profundas.
Tantos anos já foram escritos nesta mata, nas pedras que se amoldam lentamente aos caprichos das chuvas, e as folhas que já estiveram no cume e depois no subsolo, alimentando o tronco e assim sendo, voltando ao cume, embora de forma renovada.
Há um perfume de vida e de morte nesta estrada. Um som de zumbido, e para este, eu calo. Tentando compreender! será que há neste vento conselhos a serem compreendidos?
Em noites de lua cheia, os arrepios revoam soltos, há densas marés em cada cova de folha, e os pingos me parecem maremotos de choros vindos do céu.
Assim, adormeço... E nem sei se sonho ou acordo, mas cresce em mim a compreensão inequívoca de que há mais aqui, do que umas plantas, raízes e sombras. Sinto-me parte deste fruto que cai... Rebrotando sempre.
Amanheço broto, tendo dormito extinta.
Sim! Como eu já falei...
Chove em Veneza! Chove muito....as águas sobem tomando-lhe as pontes, arrancando dela suas ligações...sou mar e rio numa só inundação...amanhã?
Quem sabe serei um arrecife de rebentações. Ou toda a frágil calmaria de se compreender tantas...
E tão fecunda embora vazia, devastada.
Mata, rio, mar, lagrima, riso, sol, lua e sal tudo assim fundido numa pequena gota de orvalho desta mata. Que inegavelmente evaporará, para quem sabe um dia,
Voltar chuva.
Márcia Poesia de Sá
Nenhum comentário:
Postar um comentário