Um tiro só.
O grande mistério, tão simples como um grão de areia, tão poderoso como um vulcão em plena erupção, tão quieto como lágrima que evapora no colo, e assim o é. Cascavilhou por muito tempo, penso, por tempo demais, baús ha tanto guardados nos sótãos doutra alma,
Reuniu, organizou e arquivou momentos passados em armários cuja chave guardava sempre perto de si. Na sutil ilusão de assim aprisioná-los eternamente. As brisas do tempo são deveras insistentes e foram aos poucos abrindo armários enquanto as traças se fartavam de tudo.
E o tempo correu solto entre penhascos, aclives e declives da vida. Numa noite qualquer subiu as escadarias, repletas de teias e areias, e o som ao subir ribombava um coração que beirava a aflição, pé anti pé subia e sua mente ia aos poucos ficando tão repleta de imagens que mal via o próximo degrau. E das paredes em forma de cone trazendo dentro delas a escada helicoidal, clarões espocavam em fachos azulados pelo frio da noite. E podia-se ouvir ao longe o som das quebradas das ondas na praia do gelo.
O grande mistério aproximava-se do fim. Quando sua mão trêmula gira a maçaneta e atordoa-se completamente ao ver que tudo estava revirado. Nem mais uma folha estava em seu lugar e as traças lhes sorriam um sorriso enjaulado de dentes empoeirados. Paredes escorriam gosmas verdes de um lodo que ele jamais vira e no piso, palavras escritas com tinta vermelha.
Suas emoções em nítidas erupções contradiziam seu olhar estagnado e febril. E em agonia saía pelos cantos e tantos cantos eram, desesperado por qualquer que fosse o sentimento que sobrevivera aquele imenso caos, sua pulsação neste instante equivalia a um rajar de metralhadora. E suas mãos suavam frio. No total domínio de sua respiração, tossia como se algo o houvesse grudado na garganta. Mas nada se modificava e ele foi finalmente tentando se acalmar, foi até a janela e implorou em silêncio, a lua que o jurasse que tudo aquilo não passava de um tenebroso pesadelo.
Se deixou ali, tentando respirar e o vento agora ficava mais forte e mais forte! O mar da praia do gelo avermelhara-se por completo em seus olhos, as casas todas! apagaram suas luzes, ele era o único naquele instante, avassaladoramente contrito, engolia sua solidão que a ele parecia um misto de fel e castigo. O tempo rodopiava em sua mente, exatamente igual a bailarina do cisne negro, mas na face, o tempo carregava um ar sorridente em olhos contundentes repletos de melancolia.
A amargura agora, se apresenta a ele, uma mulher belíssima, usando um perfume bastante forte e trajada com um lindo vestido negro, cujo decote deixava aparecer seus hipnotizantes seios e um pequeno detalhe em vermelho sangue, sugeria-lhe ser o sutiã rendado. Atônito e embasbacado, ele apenas a observa e sente crescer em sua garganta o grito de um choro jamais chorado por ele. Seria este o seu fim?! e a amargura agora desfila em sua frente, caminhando pelo sótão e demonstra um prazer quase palpável em fazê-lo.
Num momento de pavor e frágil discernimento ele se encaminha á porta e começa a descer as escadas apressado, pula degraus e quase cai, mas segura-se firme em sua decisão de fugir dali, até que chegando ao térreo respira aliviado. Mas foi apenas um breve instante este suspirar...A amargura agora, estava sentada na sala, ainda mais sensual que antes, de pernas cruzadas, e a fenda do vestido, dava para observar a pele muito branca de suas coxas. Ele cai de joelhos e chora! implora que ela se vá, pede perdão por ter aprisionado sentimentos, por ter feito toda sorte de maldades e finalmente ele estaciona seus olhos na ponta do sapato escarpin negro que mais parecia um espelho, onde observa sem acreditar no que vê. Sua face já não era a mesma, seus cabelos haviam crescido e agora encostavam em suas costas completamente brancos, e seus olhos pareciam espelhados, sem cor, sem mel e sem qualquer vida. Fecha os olhos num espasmo e apenas grita!
Márcia Poesia de Sá - 2013
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