sábado, 10 de maio de 2014

Ritual

Era uma noite fria, e do céu ouvia-se sons que se perdiam nas nuvens em ecos e sussurros. A lua redonda e gigante clareava de prata os caminhos úmidos das chuvas que vinham lentamente caindo pelos corpos e areias. Ela delimitava como sombra e luz as curvas tantas das montanhas e evidenciava o brilho do lago que agora engolia a cachoeira quase sem fazer som algum, só um borbulhar inequívoco de algo que ia ser parte dele dali por diante. Os uivos que viam eram de lobos fugitivos e ecoavam pelos troncos sombrios.

Um sussurrar extasiante adentrava as matas, e os tímpanos da natureza perdiam-se em tontas sensações. Arranhando o vento, os galhos percorriam os momentos num balanço gracioso que aquecia o ar. Era noite e a floresta fazia amor consigo mesma, num eclodir de êxtases, tão visíveis quanto as estrelas que piscavam sem parar...

Um filete transparente cortava a mata vindo doutras matas, em busca do lago que por ora engravidava de águas, e crescia em volume quase como um mar, nos galhos úmidos de suor e chuva, pássaros aturdidos observavam a candura do ato de se deixar levar, e na calmaria do céu, uma lua escandalizada tinge-se de vermelho e escapa num cometa para nunca mais voltar. É a noite do ritual, os sons agora aceleram-se, os pássaros revoam, o lago vaza suas águas e a floresta exala seus aromas, e dorme em paz. Desaguando em loucuras as insanas fantasias que agora brotam em sementes e botões de lírios azuis.

Márcia Poesia de Sá.

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