Quando todo o mistério da morte vem ter comigo e isto é frequente, sempre veste um manto de seda duma cor que desconheço, usa nos pés umas pantufas invisíveis e tem na rouquidão da voz uma maciez quase lírica! nos olhos arduamente negros, uma obscuridade líquida e possui as mãos mais quentes que já toquei. Certa noite, perdido entre uma e outra escadaria do anfiteatro, ele regurgitou-me umas verdades que até hoje eu penso. A mais séria delas é sobre o despejo das noites, que em teias frias e parcamente táteis, rastejam seus cucos e afiadas lâminas á cortar sonhos e esperanças, num caminhar cíclico e determinado. O mistério da morte é um senhor grisalho, muito bem afeiçoado, que guarda no sorriso todas as distâncias e alquimias. Numa outra madrugada ele me chegou enrolado em um lençol branco e sorrindo me disse: Bom dia menina!
Nesta madrugada eu estava pisando em cacos de vidro, e na boca jazia o sangue das uvas amanhecidas no dia anterior, então, não pude responder a ele, ele, educadamente, observou minha angustia e deflagrou mais um riso dizendo: os olhos falam mais que a boca, podes exercer teu direito sem agonias. Quando o mistério da morte vem ter comigo, em noites como hoje, sinto-me muito grata por poder não dizer nada, e neste silêncio que me tortura saber-me lida em cada piscar, ou nos instantes em que abandono os meus olhos no vento á olhar para dentro. Não há estrelas nesta noite, e aqui dentro a lua dorme. Não saberia dizer nada hoje, uma montanha espreguiça-se na minha garganta, e os vãos do mar que vive em mim estão abertos, de lá só sopra maresia e sal, se eu não tomar cuidado, posso facilmente virar calmaria e soltar as ondas, mas o mistério da morte está em paz, sentado aqui do meu lado lendo Leminski e nem notou a pequenina lágrima que rolou agora. Melhor eu o deixar quieto e quem sabe esta quietude e silêncio me faça ouvir ao longe, nem que seja um único suave som de abraço. Perdido entre um ou outro telhado, desta vila praiana, donde sou ao mesmo tempo, prisioneira e o mais livre dos grãos de areia.
Nesta madrugada eu estava pisando em cacos de vidro, e na boca jazia o sangue das uvas amanhecidas no dia anterior, então, não pude responder a ele, ele, educadamente, observou minha angustia e deflagrou mais um riso dizendo: os olhos falam mais que a boca, podes exercer teu direito sem agonias. Quando o mistério da morte vem ter comigo, em noites como hoje, sinto-me muito grata por poder não dizer nada, e neste silêncio que me tortura saber-me lida em cada piscar, ou nos instantes em que abandono os meus olhos no vento á olhar para dentro. Não há estrelas nesta noite, e aqui dentro a lua dorme. Não saberia dizer nada hoje, uma montanha espreguiça-se na minha garganta, e os vãos do mar que vive em mim estão abertos, de lá só sopra maresia e sal, se eu não tomar cuidado, posso facilmente virar calmaria e soltar as ondas, mas o mistério da morte está em paz, sentado aqui do meu lado lendo Leminski e nem notou a pequenina lágrima que rolou agora. Melhor eu o deixar quieto e quem sabe esta quietude e silêncio me faça ouvir ao longe, nem que seja um único suave som de abraço. Perdido entre um ou outro telhado, desta vila praiana, donde sou ao mesmo tempo, prisioneira e o mais livre dos grãos de areia.
Márcia Poesia de Sá.
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