sábado, 17 de janeiro de 2015

O apito
E assim, no cair terno de mais uma tarde, quem sabe recaia por sobre os telhados de cacos um tanto quebradiços, uma pequenina chuva fina de esperanças !
Pois daqui de onde sento acima da colina grande de areia quente, pouco vejo além do sol que a tudo toca em um branco que cega um pouco. Lá, naquela ínfima casinha de uma janela só, tão solitária, avisto apenas aquela toalha de mesa que balança e dança, ao sabor do vento que brinca de pega com os grãos de areia.
Do outro lado, passa cegamente apressado, o carro preto dos policiais levando em seus bancos todo o pedantismo das certezas pre- formuladas. Eu sorrio, sorrio mesmo, um sorriso aberto, claro e tranquilo, como um desabrochar virgem das tulipas da neve. Meus pés, agora unidos e quietos, afagam a areia e são afagados por ela, num romance tão antigo...
Ah...e ele, o mar, agora me olha dentro dos olhos e esboça um sorriso morno, quase pueril, fico aqui olhando tudo e imaginando, no que pensa o fundo do mar?
E assim, no cair da tarde cujos relógios quebraram-se todos, eu, poeta inútil, tão facilmente inútil, apenas me deixo sentir a brisa, o sal, e os suores dos coqueiros tantos, que ainda assim, brindam-me com uma certa intimidade tosca. E na distância do cais, outro cargueiro apita sua chegada mansa.
Márcia Poesia de Sá - 2015.

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