segunda-feira, 2 de agosto de 2010


Voltando definitivamente para casa.

Meus olhos já cansados do sal e do sol se confundiam de verdes.
O esmeralda do oceano abraçava o mata de teus olhos, e os meus já misturavam todos os tons. O mar revoltado e arredio nos declamava mais uma noite de cordas entre mãos e arrepios de tempestade.
Éramos só nós e o veleiro já se mostrava cansado. Na pequena cozinha um pouco de peixe e um vinho branco, a ultima garrafa. Precisávamos aportar na ilha o mais breve possível antes que as fomes do corpo nos decapitassem a calma. As nuvens negras pouco iluminadas pela lua começam mais uma vez a se jogarem contra as velas e o sal cortante escorre em nossos corpos já gelados. Tantas horas se passaram ali, que perdemos totalmente a noção de tempo, de fome, de estar ou não vivos. A única coisa quente que sentíamos era o sangue que escorria das mãos ao segurar com força as cordas e o maldito e profundo desejo de chegar. Já era quase manhã quando avistamos a colina. Parede gigantesca de rochas, e sobre o penhasco agressivo, o nosso lar. Mais parecia um pesadelo fantasiado de sonho. Ele estava triste e sem vida sem nós, senti falta do flamboyant, e das crianças que antes corriam nos jardins. Agora éramos só nós...em nós. A água da praia tingia-se de sal e rubi... Descemos, caminhamos no mais puro silêncio até o topo da colina. Tudo estava tão frio, tão vazio. Olhamos-nos profundamente nos olhos, como a muito não fazíamos. E pela primeira vez em anos, senti teu sorriso querer aparecer na face queimada de sol. Aproximamos-nos do desfiladeiro... Demo-nos as mãos e voamos finalmente ao nosso chão.

Márcia Poesia de Sá

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