segunda-feira, 22 de novembro de 2010


Fria paisagem

Rastros são deixados nos caminhos, fomes cegas salivam na madrugada e um grito quase surdo se faz ecoar por entre os troncos de ciprestes esguios...Nos ninhos calam-se as aves, e a lua marota, adormece...uivam e rosnam feras na noite que se vai despedindo.
Na casinha só com uma vela acesa, respira sem ar o candelabro... E as flamas de sonhos de um passado, se esgueiram em fila para a vela. Jogados nos cantos convites de um sempre, que nem sempre existiu de fato, foram escritos por tintas de ventos, e na tempestade ficaram borrados.
Uma escadaria cinza corta a paisagem da casa, e longos fios de eras... Avisam da solidão do espaço. As aranhas dançam a canção do medo. Enquanto pelos revoam na imensidão. Um olhar trêmulo da arvore mais antiga disfarça um sorriso sombrio, de quem já viu mais do que devia.
Rastros de verdades e inverdades... Frascos caídos de perfumes vazios ainda exalam neste rarefeito ar, e pássaros mudaram-se dos ninhos. A beleza gélida é mas uma paisagem azul, que sobrevive aos dias e as noites, mesmo que com a alma ausente...ela ainda encanta os abutres cegos.
E apaixona os escritores sérios, que descrevem ainda encanto, de onde só escorre dor.
Gotas sobrepostas de melancolia, um vazio lírico sobre humano... Nada há que brilhe nesta noite. Além do reflexo da lua nos dentes, das feras esfomeadas de calor.

Márcia Poesia de Sá

Nenhum comentário:

Postar um comentário