Sua surdez interna
Vem Ca...
Sei que esperavas palavras minhas, pois deixes que revoem os telhados, meu silencio nada pardo regurgita exatidão. Falo das palavras caladas que agora gritam
Vem Ca...
Não me negues a ferida mais exposta,
Pois que agora a mesa já está posta
e eu derramarei o tinto vinho da verdade sobre teus talheres de prata...
Engraçado, prata enferrujada de maresia.
Vem Ca...
Para de fingir este sorriso, canta comigo este famigerado grito e deixa que ecoe...
É fácil, imita-me baixinho para treinar:
Eu te amo, ainda!
Repete: eu te amo, ainda.
Sei que soa estranho e arranhado, sei que a dor da negação é um pecado, e que seria mais fácil não ouvir.
Mas de tanto observar esta paisagem branda em tua face, embora escutando o borbulhar de lava, hoje decidi abrir as entranhas a faca e gritar-te em voz nada cálida:
Vem Ca!
Sorrio ao ver o tudo fantasiado de quase nada, a paz com plumas de desespero interno, e o gosto de amargo nos favos de mel de tuas colméias. Palhaços num tablado do eterno, e aplausos da platéia estupefata.
Vem Ca!
Rasga essas mentiras, me ajuda a jogá-las na fogueira...
E quando o crepitar se fizer sonoro
Permite-me bater a porta outra vez.
Pois já queimei a minha sensatez, quando pensei um dia que me ouvirias.
Mas tua surdez é inequívoca, latejante e visceral saída... Ainda que vestida de destino
Márcia Poesia de Sá – 24.11.2010
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