domingo, 18 de março de 2012

Nossos momentos

Onde pouso minha neblina
quando me encontras?!

inundando-me de tuas torrenciais chuvas
Incisivas como tuas ideias, afogas-me!

mastigo estrelas deste mar de nós
e observo cavalos marinhos
que dentre eu e tu, rodopiam 
sorrio...

Sinto-me tão vasta!

um tanto porosa, liquefeita quase,
e deixo-me ali, bailarina entre teus braços
quando fundem-se nossas densidades
neste fecundo azul de borbulhas prateadas

...E entra o verão com labaredas de tudo, e queima!
mas vestindo-se de cores, faz nascer a primavera!
então, despe-se, e muda, e desfolha, viramos outono!
e gela, e petrifica-se, transformando-nos em inverno!
só para derreter-nos devagar.

No entanto cá dentro, um sentir se eterniza
mantendo-se desvairadamente imune as intempéries
desta nossa tresloucada vida

Pressinto pois, ser no cais de teus olhos, minha única guarida!
e abandono-me lá.

...Prostrada na maciez dos pelos de teu peito, finalmente zarpo
mar á dentro, afoita como rajada de vento! 
neste total á deriva, desses nossos momentos. 

Márcia Poesia de Sá - Dez 2013..
As tantas vezes da memória

Aquela porta de madeira escura e maciça, parecia pesar toneladas de história.
Ela pairava naquela fachada de pedras e deixava claro ter nascido de alguma árvore centenária
provavelmente de alguma mata fechada e escura.
Atravesso a rua, com os olhos fixos naquela fechadura a imaginar o que me aguarda do outro lado. Finalmente me aproximo, a mão recolhida na luva de lã, disfarça bem o tremor que a acompanha. A luz, embora tímida e acinzentada invade o chão de mármore branco, e meus pés o pisam com gigantesco respeito, quantas pessoas já fizeram este caminho? penso eu...
à frente daquele piso branco, despenca qual cachoeira a enorme escadaria, que como musica escorre na escuridão das velas, bem colocadas ao lado da descida, como se mais uma vez bradasse o século no qual foi esculpida.
O som é mágico, um piano muito bem dedilhado entoa uma canção triste. O escarpam preto
vai furando quase que suavemente o vento, e eu desço.
Apenas um candelabro ilumina o centro do gigantesco salão, e as toalhas do mais puro branco, parecem dançar uma valsa mística, com a lua lá fora, lua esta que se exibe pelos janelões de vidro que ficam no alto da parede.
As mesas de pedra, as taças de vinho...a cor daquelas flores jogadas, e a beleza dos arabescos de ferro. Me transporto definitivamente para aquele lugar e finalmente relembro-me dos dias em que aquele lugar era meu lar, choro timidamente e tento esconder a emoção.
O metre se aproxima, e apenas peço a mesa do canto, a de sempre, Philip.

Márcia Poesia de Sá

quarta-feira, 14 de março de 2012

Tarde chuvosa

Ele fumava seu cachimbo calmamente ao som de Vivaldi, enquanto a tarde chuvosa umedecia carinhosamente a tarde das hortênsias
o jardim sempre parava para revoar com ele e seus pensamentos. Beija flores coloriam a paisagem, e eu, menina pequena ainda, brincava com minhas Suzys pelo chão do terraço. Mas mesmo pequena, lembro-me que de quando em quando, eu parava para observar aquela fumaça que desenhava no vento, arabescos de tantas formas. A toalha branca sobre a mesa redonda, me fazia lembrar uma saia rodopiante de alguma bailarina gorda e sozinha, eu ria de meus pensamentos.
É fantástico observar como algumas palavras, neste caso, cachimbo, abrem a alavanca das memórias e o escritor desaba mente adentro por sensações, cheiros, gostos e tudo o mais que o livro das lembranças guarda tão bem guardado entre suas folhas...
O olhar dele deixava claro que apenas uma pequenina parte daquela imensa alma permanecia naquele terraço...seus olhos que vagavam entre um pássaro ou a macies azul do brilho da água da piscina, tentavam me iludir de sua presença, mas no intimo eu sentia que na verdade, ele andava distante, quem sabe caminhando em suas memorias, como hoje faço. E eu, respeitosamente só silenciava, e até a maçã devagar mordia... observando apaixonada aquele ser...que tanto me dizia, mesmo em silencio.
A porta que uniu-me a ele é infinita e indestrutível...e hoje quando chove, e eu me entrego a Vivaldi, posso quase toca-lhe a mão do outro lado deste infinito.

Márcia Poesia de Sá

domingo, 11 de março de 2012

Meu caro amigo,



vou te deixar por debaixo da porta um segredo, e neste segredo ha sopros de brisa do mar

quando abrires, fecha os olhos e sente...sentiras em tua face um certo vento quente, e provavelmente haverá respingos de sal.

Te mandei um pedacinho de um mar, um mar de coisas tantas...

quem sabe um dia ainda possamos rir desta distância, e talvez comemorar da vida, a dança

Mas hoje apenas quero mandar este bilhete, junto a ele irá um ramalhete

Hortênsias azuis, para te lembrar do céu

Meu caro amigo, temos a alma exposta num papel

e este papel virará folha amarelada qualquer dia, mas os dias provarão que valeu a pena

persistir, insistir e lutar...

Sei que as vezes cansa...da vontade de embriagar-se de tudo isso e mandar esta vida como barquinho de papel em mar revolto,

sei das aves brancas e dos corvos

Sei do frio da terra e do ar

mas ainda que com passos lentos,.sabemos navegar ao vento

somos veleiros de expressão, sombras de gaivotas em águas cristalinas

Neste bilhete de poucas linhas e com gosto de mar

entrego-lhe a bandeira branca da vitória

e que assim seja.



Márcia Poesia de Sá
Olha vida...


se tu vieres de novo, não me engana ta?
não me faça perder tempo amando quem não me ama, conversando com quem não ouve, nem perder o importante tempo de conversa com quem de fato tem o que dizer só para ir a uma praia ou outra bobagem qualquer.
Mostra-me logo cedo quem é quem. Da a mim a chance de verdadeiramente escolher a viagem, que bilhete comprar e quantos outros deixar voar pela janela.
quando eu quiser uma tatuagem, deixa! não seria mal ter aquela pequenina borboleta azul no ombro como eu tanto quis um dia. E se eu tivesse pintado o cabelo de vermelho com as pontas azuis naqueles anos...certamente as fotografias me fariam rir muito hoje...que pena que não deixaram.
olha só...permita que ao andar de moto, umas vezes eu corra...que graça tem uma moto sem vento no rosto? sem cabelos voando? e naquele dia que eu for...só me permita ir...não fica me lembrando as responsabilidades. Não são elas que farão parte de minhas doces memórias amanhã.
sabe aquela camisa da farda do terceiro ano, que as amigas e amigos assinam e escrevem recadinhos de despedida no fim do ano? desta vez eu vou guardar!!
Vou guardar também muitas gargalhadas para os dias de seriedade, vou anotar as piadas para não esquecer e também aquele pôr do sol .
O gosto daquelas frutas maduras, a sensação do banho de chuva e de rio, vou guardar cada sonho num laço verde claro de seda de esperanças...
Vou trancafiar num vidrinho os beijos, os carinhos e as saudades, cada um num vidro é claro...assim, tendo em estoque não me farão falta jamais.
Vou rir mais, estudar mais mas certamente faltar a aula mais quando a memória futura valer a pena.
sabe vida? ser séria demais é chato.
enfim vida, se vieres novamente...
vem direito!

Márcia Poesia de Sá

quinta-feira, 1 de março de 2012

Talvez, e só talvez seja a hora
hora de decretar a partida sem demora
hora de rasgar a ficha de entrada e assinar
as papeletas de tantas verdades não ouvidas

hora de abrir as travas e voar
finalmente

é...acho que a hora é esta.