sábado, 22 de março de 2014

Rede de arrasto

Quando a vida nos impõe grandes verdades e nos arrasta a face pelas pedras necessárias, arranhando profundamente nossos pseudo encantos, corre por todo canto um sangue sem sangrar. No entanto insistimos em ver fantasmas brandos, mas a vida não é branda, não é e nunca foi. 
Nós é que como crianças afoitas ousamos sempre acreditar em fantasias e essas fantasias n'alguns dias são sim, fantasmas horrendos, a percorrerem calabouços de nossas almas enquanto só o vento frio que se esgueira pela fresta, assovia uma música arrepiante.


E nesses dias há de se perder a poesia, pois a poesia não cabe inteira em tão profundo pranto. Quando a vida nos rouba a lente colorida, é de cinza que se pinta o dia, e são nos tons do negro ao alvo que deflagram as maiores dores humanas, as verdades sãs e coerentes, as frases mais latentes e um choro sem lágrima. É a verdade escancarada, a pele rasgada, o peito vazio e a solidão. As notas de sons viraram as esquinas, neva mais uma vez em minha alma e desta vez, não há cobertores. E nesta pesca sem pesca e nem pescador, eu e minhas entranhas continuamos a dançar com a lua. E o mar, mais que nunca, hoje está prateado. Quando a vida se nomeia maturidade, apesar da coleção de adeus, só uma coisa nos mantem vivos, o dom de saber sofrer em paz, e essa estranha mania e continuar apesar de tudo. Apesar de tudo... apesar.

Márcia Poesia de Sá.

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