sábado, 22 de janeiro de 2011


Mentes caminhantes



Ando com saudades de ti
Ando...
Ando com remorsos de mim
Ando...
Ando pensando no que vi
Ando...
Ando...não sei se bom ou ruim


Ando e alguns passos retornam
Ando...
Ando adentrando em jardins
Ando...
Ando bailando em francês
Ando...
Ando relendo diarios
Ando...
Ando tentando outra vêz


Ando...
Como quem vai ao dentista
Ando...
Com alguma exitação
Ando...
Como quem o mar avista
Ando...
Com total excitação

Ando...


E de tanto andar, eu me canso
Ando...
E em asas de vento eu danço
Ando...
E num mar de sentir, mudo os planos
Ando
Caminhante para dentro de mim



Storm Soul e Márcia Poesia de Sá

Fria paisagem II

E os cães ladram... A mata silenciosa sussurra seus segredos e algo escorre entre seus troncos retorcidos. Uma navalha fria corta o vento, e o capuz não me deixa ver muito mais que um certo tom de prata delineando um maxilar forte. Seria este ser um espectro? Ou um guardião silencioso do mais profundo segredo...
Apenas águas vejo, não sei que cor elas exibem, aqui tudo tem a mesma tonalidade sombria das noites profundas.

Tantos anos já foram escritos nesta mata, nas pedras que se amoldam lentamente aos caprichos das chuvas, e as folhas que já estiveram no cume e depois no subsolo, alimentando o tronco e assim sendo, voltando ao cume, embora de forma renovada.
Há um perfume de vida e de morte nesta estrada. Um som de zumbido, e para este, eu calo. Tentando compreender! será que há neste vento conselhos a serem compreendidos?

Em noites de lua cheia, os arrepios revoam soltos, há densas marés em cada cova de folha, e os pingos me parecem maremotos de choros vindos do céu.
Assim, adormeço... E nem sei se sonho ou acordo, mas cresce em mim a compreensão inequívoca de que há mais aqui, do que umas plantas, raízes e sombras. Sinto-me parte deste fruto que cai... Rebrotando sempre.

Amanheço broto, tendo dormito extinta.

Sim! Como eu já falei...
Chove em Veneza! Chove muito....as águas sobem tomando-lhe as pontes, arrancando dela suas ligações...sou mar e rio numa só inundação...amanhã?
Quem sabe serei um arrecife de rebentações. Ou toda a frágil calmaria de se compreender tantas...

E tão fecunda embora vazia, devastada.
Mata, rio, mar, lagrima, riso, sol, lua e sal tudo assim fundido numa pequena gota de orvalho desta mata. Que inegavelmente evaporará, para quem sabe um dia,
Voltar chuva.

Márcia Poesia de Sá

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Meus medos


Houve um tempo em que acreditei não tê-los...

Faziam parte de um antigo capitulo

De algum velho livro...

Esquecido pelos anos...

Mas as ratoeiras jamais se desarmam sozinhas

E hoje compreendo meu ledo engano

Temo o maior de todos os medos!

Temo perder-me de mim

Temo o fim da lógica

Perco o chão ao imaginar-me insana

Temo a loucura!

Não como loucura assim, dita

Simplesmente e profana,

Temo a loucura escondida

Temo simplesmente perder minhas cores e linhas

Apagar-me literalmente

Tenho medo do silêncio da minha mente

Que apavorada irá debater-se

Choro só de pensar em ouvir outras vozes que não as minhas

A contar-me contos, histórias ou poesias.

Temo o apagão de minhas verdades frias

Temo a morte do sonho

A realidade crua a apodrecer minhas asas...

Meu fim, assim...

Como um simples caderno novo.

Um nada...

Um qualquer coisa de mim

Onde certamente jamais me reconhecerão.

Temo o vazio com som de corvos,

Não a solidão.

Márcia Poesia de Sá


Aquele mundo de papel

Navegava lenta em meu barquinho de papel manteiga, e o mar se fazia calmaria, brincando comigo de vai não vai... Poucas marolas me empurravam aos cais e em outras ocasiões me levavam de volta. Até chego a crer que o mar, pondo a mão na boca, para que eu não escutasse, dava boas risadas de mim.
Foi ai, que decidi brincar também, guardei a ansiedade numa pequena concha e joguei em suas águas. Agarrei-me ao meu bloco e me pus a versejar, sei que quando escrevo vôo...
Logo, isso o faria perceber que havia perdido a brincadeira. De fato deu certo!
Ele deu um suspiro forte, longo... De quem desistia
Então este vento me soprou o barco para uma praia deserta e linda. Muito estranha, porém...
Ao descer do barco, atônita vejo uma paisagem absolutamente branca, vários tons de branco é verdade, mas tudo branco! Coqueiros enrolados de folhas de papel crepom. Toda a vegetação da ilha era feita em cartolinas, papeis dupla face, e até mesmo o meu amado papel fabriano, que cobria as flores e frutos. Não compreendia como aquilo poderia existir.
No entanto o mar tinha um tom de azul divino, misto a um leve pincelado esmeralda que contornava o horizonte. Sentei na areia branca... e passei alguns minutos a observar os contrastes. Adentrei na mata por horas depois, na busca incessante de cor...
Foi ai que vi um pássaro, lilás... ele me fazia sinal, como se estivesse realmente precisando de mim. Decido segui-lo, e entre pulos e sustos com algumas serpentes de papel seda. Chego a uma monumental construção de blocos de pedras gigantes que parecia ser um templo, um castelo, não sei...
O pássaro deu uma rasante na minha cabeça e entrou na grande porta que havia na muralha da frente, o branco e o brilho quase de mármore, embora fosse também papel, um papel acetinado eu creio, quase me encandeou.
Sigo o pássaro que batia suas asas lindamente, e o tom lilás e agora parecia azulado nas pontas das asas. Ele pousa calmo em uma mesa central que havia na gigantesca sala, me aproximo dele com calma, não queria assustá-lo, ele era lindo!
No centro da mesa, um bilhete...

“Todas as cores vivem nos olhos de quem sabe ver, se a grande ave trouxe-o até aqui, você foi a escolhida, para pintar a vida e a imaginação...
Faça-o, com amor.”
E de repente, avisto cores surgindo em meu coração como um redemoinho incandescente, um fractal brilhante, toma todo meu corpo, e escorre em pingos por minhas mãos neste exato instante.



Márcia Poesia de Sá- 13.07.2010


segunda-feira, 17 de janeiro de 2011


Minha ousadia



Mãos libertinas.
Imagens retidas em retinas

Nas teias dos seios,
Harmonia...

A lira dos tempos soam
Ondas de calor.

Um corpo em outro corpo...
Suor, sensibilidade e sabor.

A língua perdida
Dourada e dolorida no
Inferno em chamas!!! Dilui...

As almas benditas.



Márcia Poesia de Sá

domingo, 16 de janeiro de 2011


Tocando

Umas notas bailam em minha mente e me levam em braços de vento
ao âmago de mim...ha um vento frio e pequenas gotas caem dos céus anis
sou, apenas sou, e mesmo assim duvido.

Não há verdades bastantes, nem mentiras presentes, só o som...
o bailar de minhas asas transparentes e um rodopiar de uma seda branca
em meio a todo este azul...

Sinto o meu ar que entra e sai outro, com outra face, outro nome...
Permito-me voar...e adormeço na canção, para acordar pisando o infinito
E deste lugar sinto-me parte.

Assim como se partem os fios dos pensamentos permitindo-me
não mais ser este ser que se busca, para me transformar finalmente...
Neste ser que se encontra.

Márcia Poesia de Sá

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011





A poesia e as asas do poeta

Quando me percebo ausente, deito-me na curva do vento,
Esquecendo minha presença, é ai que sinto as tuas asas

Flamejantes e multi cores asas, que me embalam o sono melhor....
O mais lindo sonho, quando te toco as penas,
e sinto teu cheiro de mar...

Ave que de tantos mares retorna, com a alma morna qual marola...
Que te deitas ao meu lado tão sutil... E soltas lentamente as tuas doces notas...

Poeta que a minha veia cala, que me incendeia em manhãs tão raras... Que me faz voar em céu de colibris.

Toca minh’alma que liquefeita torna-se, escorrendo sentimentos que jamais senti....

Tão transparentes, quanto a tua calma, quando te levantas e te vais de mim.

Permanecendo eu, assim adormecida
Acordo na manhã nascida, e o sol me faz acreditar...

Que tudo o que houve não pode ter sido apenas sonho.

Márcia Poesia de Sá

terça-feira, 11 de janeiro de 2011


Calmaria insana

Ouvia passos, e a luz da lua na praia em calmaria me permitia ver toda a paisagem, não via ninguém indo ou vindo, mas mesmo assim escutava os passos...
Sentada na marolinha, a água morna me molhava os pés, e as casinhas da beira mar estavam todas escuras, não fossem um ou outro lampião ao longe. De repente vi os passos marcados na areia, só as marcas!

... E a lâmina fria que me adentrava a pele sem doer.
Passeava gélida por minhas entranhas como se buscasse algo la. Meus olhos apenas a observavam calmamente como se nada de errado estivesse acontecendo. Um rio vermelho começava a umedecer a areia e caminhava quente e manso para o mar.
Uma onda o encontra e em tantas cores o desfaz.

Subitamente a lâmina começa a sair e em um brilho estranho algo na ponta é seguro pelo vento, parece uma pedra... Mas há fios que se esgueiram dela... A lâmina começa a desaparecer de perto de mim... Saindo da minha pele, e flutuando de volta ao mar lentamente e o rio vermelho que eu pensava que iria embora nas águas salgadas começa a retornar...

Vai saindo da profundidade da areia... Encontra minha pele e penetra lento... Quente, ainda mais quente que quando saiu... Os cortes unem-se, como se realmente nada tivesse acontecido, sinto um gosto de sal na minha boca, e uma gota do sangue que havia pingado em minhas coxas, é apanhado pelo meu dedo...lambo-o...e qual não foi minha surpresa, não era sangue, era só um gosto de mar.

O sol então começa a raiar... Levanto olho às casas ainda todas fechadas, estou só e um ar muito estranho me embala de volta a minha casa, lembro da pedra, procuro-a, mas é inútil, ela sumiu juntamente com a lâmina...e com todos os meus medos. E o vento me avisa em uivos, chove em Veneza.

Márcia Poesia de Sá

domingo, 9 de janeiro de 2011


Joga

Queres me definir?
Joga fora tuas réguas
Joga fora teus riscos
E teus martelos...
Queres me conhecer?
Joga fora teus medos
Joga fora os acertos
E dúvidas...
Queres me tocar
Fecha os olhos do tempo
Abre as pernas da vida
Sente...
Queres me amar?
Joga fora teus breus
Pinta-me com transparências
Aprende a ler!
Queres me conhecer?
Deita na nuvem de folhas
Adormece num mar de sal...
Acorda, jovem
Queres me tatear?
Sejas poeta.
Se quiseres me ver
Aconselho:
Fecha teus olhos.

Márcia Poesia de Sá

sábado, 8 de janeiro de 2011


Falta-nos ar

Artérias pulsam descompassadas...
Os olhos tateiam um certo cinza...

Um aguardo da face,
o brilho de estrelas que raiam em tua boca,

...tão definido.

A ânsia de ver-te, me seca a garganta
a flecha apontada para tantas danças
e um mar de espera que a mim, encanta

De repente, raia o sol na noite...é poesia!
Finalmente...

E o som que rasga as ondas da distância,
ainda bailam suaves em minha mente.

Quando a imagem aquece a retina
Falta-me o ar, tua presença.

Enquanto cortas as nuvens em vôo certeiro
Perdes o fôlego, a voz... As peles aquecem!

Mas a morte nos abraça de desejos
Sufocando-nos num encontro de paixão.

Márcia Poesia de Sá