Só.
Só esta liberdade
atada aos pés descalços
que sobe e desce as ladeiras
da quente Olinda,
atada aos pés descalços
que sobe e desce as ladeiras
da quente Olinda,
Avista trôpega ainda
a paisagem
que ao longe
se refaz de um azul
molhado
a paisagem
que ao longe
se refaz de um azul
molhado
E a chuva que caiu
logo cedo nos telhados
evapora
E implora
como imploram
para viver, esses
meninos.
logo cedo nos telhados
evapora
E implora
como imploram
para viver, esses
meninos.
Só a liberdade
vê este menino
o menino que chupa
ávidamente
um picolé verde
vê este menino
o menino que chupa
ávidamente
um picolé verde
Do outro lado da rua
estica-se faminto
o olhar de outro menino
este suga o vento
é arrasta
pelas
ladeiras da quente
Olinda...
estica-se faminto
o olhar de outro menino
este suga o vento
é arrasta
pelas
ladeiras da quente
Olinda...
Um carrinho
amarrado de cordão
e lata
amarrado de cordão
e lata
Lata de sardinha
seca como
o verde
da esperança
que descansa
esquecida
seca como
o verde
da esperança
que descansa
esquecida
Na liberdade
frágil
dessas ladeiras de
Olinda...
frágil
dessas ladeiras de
Olinda...
E uma menina
atravessa a praça
saia de flores
pernas de horrores
ri de pirraça
atravessa a praça
saia de flores
pernas de horrores
ri de pirraça
Nas escadarias da igreja
sobem os cegos
tocam os sinos
sobem os cegos
tocam os sinos
- morreu um dos meninos !
Ninguém viu
estavam rezando
estavam rezando
E o picolé verde
derrete-se
no chão...
derrete-se
no chão...
sem sorte
sem sonho
sem nada
sem sonho
sem nada
nas pedras quentes
da escada
da escada
Da liberdade franzina.
Márcia Poesia de Sá.